Um serviço de emergência exclusivo para a ressaca
By ISABEL DE LUCA, O Globo June 15, 2014
NOVA YORK - No meio da semana que passou, Alexandra, uma profissional do mercado financeiro que prefere não ter o sobrenome publicado, levou clientes de fora da cidade para conhecer a noite de Nova York. E que noite: o grupo acabou entornando várias garrafas de vinho num restaurante e, depois, ainda saiu pelos bares do Meatpacking District, virando shots e mais shots de tequila.
— Tomei pelo menos sete — ela lembra, bufando do outro lado da linha.
O dia seguinte, claro, começou mal. Mas às 9h a americana já estava linda, loura e inteligente numa reunião em Wall Street. Assim que chegou ao escritório, Alexandra deu um telefonema e se entregou, de braços literalmente abertos, a um tratamento intravenoso que vem dando o que falar, ao prometer — e, ao que parece, entregar — a cura da ressaca.
Clínicas especializadas no coquetel, composto de vitaminas, antioxidantes e eletrólitos, espalham-se com rapidez pelos Estados Unidos, onde, segundo um relatório divulgado no mês passado pelo Centro para Controle e Prevenção de Doenças, 38 milhões de adultos bebem demais. Em Nova York, cidade em que o aluguel comercial é caríssimo e ninguém tem tempo a perder, o mercado é dominado pela The IV Doctor, que manda uma equipe aonde o cliente estiver, a qualquer hora.
— Em 15 minutos eu estava mil vezes melhor. Minha cabeça parou de latejar, não sentia mais enjoo e fiquei com energia de sobra para trabalhar por dez horas — conta ela, que já tinha ouvido o testemunho de amigos e recorreu ao serviço pela primeira vez. — Definitivamente eu o faria de novo.
O “milagre” se faz em cerca de meia hora e custa caro: US$ 249. Mesmo assim, o urologista Elliot Nadelson, que abriu o The IV Doctor há seis meses, acaba de inaugurar um centro nos Hamptons, em Long Island, e se prepara para levar a marca a Chicago nas próximas semanas. Em Nova York, ele emprega quatro médicos, que atendem os pacientes pelo telefone, e 16 enfermeiras, que saem para aplicar o coquetel. A fórmula é similar em todas as clínicas. O “processo de ressurreição” de Nadelson (palavras do próprio) consiste de uma solução salina como a usada em pacientes desidratados nos hospitais, aliada a doses de magnésio, potássio, cálcio e vitaminas.
— Mudamos os coquetéis com base nos sintomas do paciente. Se está enjoado, botamos um medicamento específico. Se está com dor de cabeça, idem. Para falta de energia, boto B-12 ou complexo B. Para gripe, vitamina C – explica o médico. — O objetivo é mesmo o de ressuscitar. E as pessoas se sentem ótimas depois.
Primeira unidade surgiu em 2012
O precursor da nova mania é o anestesista Jason Burke, que fundou a Hangover Heaven em Las Vegas em 2012, ao perceber que o tratamento de sintomas pós-cirúrgicos, como dor de cabeça e enjoo, poderia ser aplicado para aplacar a ressaca. Além de uma clínica propriamente dita, ele oferece coquetéis – o mais popular é o Party Girl Grip, a US$ 99 – em ônibus que rodam o centro nervoso da cidade. O médico conta que mais de 20 mil pacientes já foram atendidos, e que está em expansão pelos Estados Unidos e além.
— Somos a única clínica médica do mundo dedicada à prevenção e ao tratamento da ressaca. Inúmeras outras apareceram depois. Mas a minha cura é diferente. Embora a terapia intravenosa seja um componente significativo do processo, há outros elementos cruciais, incluindo minha mistura de nutrientes particular — orgulha-se. — O tratamento do Dr. Burke é popular porque funciona.
Tem funcionado para a concorrência também. No Reviv Wellness Spa, em Miami, os festeiros recebem a infusão Royal Flush por US$ 195. Em Chicago, a IvMe Hydration Clinic, que oferece até Botox, existe sobretudo para quem passa dos limites, no bar ou na ginástica. E a The IV Doctor nova-iorquina, além de apagar vestígios de farra, acena com intervenções para gripe, jet lag e intoxicação alimentar.
— Mas a maioria quer tratar a ressaca — afirma Nadelson. — Optei pela operação móvel porque nossa clientela não iria a uma loja. Fornecemos um serviço de luxo. Tratamos muitas celebridades.
Recentemente, a cantora Rihanna tuitou uma foto com uma agulha no braço no dia seguinte ao baile de gala do Metropolitan. Sua assessoria se apressou em justificar que ela estava apenas gripada, mas a imagem correu a rede e ajudou a propagar o fenômeno, do qual Madonna e Cindy Crawford também seriam fãs. A modelo Cara Delevigne, por sua vez, postou no Instagram em janeiro uma foto de dois braços com agulhas, um presumidamente dela e o outro da namorada, a atriz Michelle Rodriguez, com a legenda alusiva ao tratamento intravenoso.
Tal método não é unanimidade entre os médicos. O editor-chefe de medicina da rede de TV ABC News, Richard Besser, argumentou no ar: “Qualquer pessoa que beba ao ponto de precisar de reidratação tem problemas com a bebida. Espero que, como parte do serviço, eles encaminhem os pacientes para os Alcoólicos Anônimos.” Mas o IV Doctor se move empurrado pela repercussão. Está lançando um sistema de franquias para “abrir uma unidade móvel em toda grande cidade americana” e até fora do país. Ele aproveita para propagandear:
— Adoraria chegar ao Brasil.
« Back to Press | See How The IV Doc Can Help - Hangover, Flu, Fatigue Relief